A necessidade de espaços de auto-organização das mulheres é latente. É preciso compreender o feminismo como um movimento questionador de todo um sistema que se legitima e se reafirma na reprodução desses valores de subjugação. E assim, assumindo-se que as mulheres têm de conquistar sua emancipação, e essa luta é casada com a necessidade de se construir uma outra sociedade, torna-se ainda mais importante instrumentalizar as companheiras para isso.
É preciso gerar uma identidade política coletiva das mulheres, porque é o que as unifica e as coloca em movimento. Os espaços de auto-organização garantem debate e planejamento com base em experiências e impressões que todas compartilham, porque sofrem na pele essa opressão. Apenas as mulheres podem dizer o que é ser mulher, do que elas precisam, como vêem o mundo, para, a partir daí, saberem identificar sua disputa. As conquistas não são concessões. São conquistas. Embora seja fundamental contar com a solidariedade e a colaboração dos companheiros nessa luta, há que se compreender que se devem preservar os espaços das mulheres pensarem e se organizarem para uma luta que é, em primeiro lugar, delas.
A discussão de gênero não pode ter o objetivo, meramente, de correção de atitudes, ou de transformação de comportamentos particulares. Somos feministas, fazemos política e entendemos o movimento de mulheres como um movimento social porque queremos ir muito para além, queremos interferir na vida das mulheres e na opressão que sofrem cotidianamente através de ações políticas que nos permitam essa capilaridade. Queremos transformações estruturais na sociedade moderna, que nos permitam viver livres de toda forma de subjugação de um ser humano por outro.
Conquistas não vêm por decreto. Muito menos por favor. Não precisamos convencer os homens a deixarem de oprimir as mulheres, porque compreendemos a sociedade como algo um pouco mais complexo que isso e, conhecemos nossa potencialidade de protagonistas da nossa própria história.
Paulo Freire dizia que a emancipação de um setor oprimido somente virá por obra desse mesmo setor oprimido. É isso que buscamos com os espaços de auto-organização: autonomia. Relações de gênero são sim relações de poder, e as mulheres não buscam inverter a seta da opressão. Buscam uma sociedade igualitária. E para essa busca, os espaços de cada um devem ser respeitados. Quem transforma a história são sujeitos políticos coletivos, que sabem quem são, por que lutam e onde querem chegar. A libertação das mulheres passa, sem dúvida, por aí.
Por: Alessandra Terribili, ex-diretora de Mulheres da UNE
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